(Texto 1/7)
Estávamos no dia 04 de Fevereiro de 1972, no Aeroporto em Lisboa, numa aerogare da força aérea, Figo Maduro.
Eram 23 horas, de uma noite muito fria, escura e… triste.
Com tudo muito iluminado e nítido à nossa volta, entre momentos de boa camaradagem, de espanto e de alguma descontracção, fizemos um razoável percurso a pé, até ao avião.
Poucos tinham visto um Boeing 707 de tão perto. Era todo branco com uma risca azul ao meio e uma cruz latina vermelha no bojo, junto às janelas, entre as asas e a porta de acesso.
Organizados, subimos as escadas e entrámos deslumbrados.
Já no ar, com o espectáculo de uma Lisboa à noite a perder-se de vista, passou-se, rapidamente, de um Oceano Atlântico cheio de brilho para um ambiente de nuvens muito escuras.
De madrugada, no meio de uma grande tempestade tropical, o avião era sacudido grosseiramente entre grandes deslocações para baixo e para cima. Lá fora, via-se perfeitamente como se fosse dia e as nuvens eram rasgadas frequentemente por enormes clarões. As extremidades das asas vibravam.
Para me proteger da luz dos relâmpagos, baixei a persiana da pequena janela, ajeitei-me na cadeira e adormeci como se não tivesse consciência, como se o vazio se tivesse apoderado do meu espírito fazendo-me esquecer aquela agonia familiar da partida para a guerra.
A imagem do real voou e fui pousar sobre o horizonte do irreal.
(Continua)
Carlos Alberto Santos